domingo, 1 de novembro de 2015

Pequenos Fragmentos Homicidas Que Nos Habita



"Todas tuas dores transbordarão", senti na prática o que isso queria dizer. Transbordei. Doeu.Uma.Duas.Três. Na segunda passei a me perguntar onde caberia tanta dor, tanto medos, tantas angústia, incertezas... Esqueci que assim como o pulmão nosso peito também se expande, se abre e absorve tudo oque não deveria, e os medos, angústias, incertezas e dores entram como pequenos fragmentos.Tolice, não percebi antes, os fragmentos tomaram conta de tudo, preencheu meu peito e me senti vazia.Transbordei.
Talvez a dor seja um fracasso interno e totalmente privado, cada um com seus problemas, cada um com suas dores, somos todos fracassados, uns mais que os outros, porém fracassados.

"Vai pesar". Pesou. Era como se os pequenos fragmentos possuíssem chumbo em suas estruturas, se dividiram entre o espaço no peito e o peso em cima das costas.Senti uma rédia em mim, subiram e cavalgaram com toda vontade que tinha, e ficaram lá por meses, as cavalgadas se intensificavam á noite, coisa que me rendia um olhar profundo pela manhã, momento em que continuavam lá.
Foi numa manhã que não me levantei, que não tinha forças, foi a amanhã que os motivos que eu tinha para tirar os pequenos fragmentos compostos de chumbo de cima de mim desapareceram, eles pareciam comemorar a permanência que eu tinha concedido á eles. Vibravam. E eu? Eu me contorcia, queria vomita-los e sentir-me limpa, mas queria o conforto que eles estavam me proporcionando, estava me acostumando a toda aquela agitação, não sem meu consentimento, mas eles se tornaram parte da casa.

"Vai doer". Doeu. Nunca pensei que poderia sentir dor pela dor, mas senti. Senti porque doeu a maneira como eles tomaram conta da casa, sugaram por completo tudo que restava de mim, o que restou foi o desejo de despejá-los. Queria vomitar esses pequenos fragmentos, rasgar minha pele e tirá-los com a mão, queria cuspi-los, sugá-los, eu só queria tirar eles para fora. Não consegui e doeu de novo. Transbordei.
"Gritarás". Gritei. Descobrir maneiras de gritar, gritei desesperadamente, gritei internamente, pedi socorro pro vazio porque estava pesando, estava doendo, gritei sem voz. E eles se agitaram, Cresceram. Destrutivos agora pesavam como chumbo, ardiam como ácido e eu queimava.
Passou os meses, exausta senti dor do peso e gritava, simultaneamente. Percebi que estavam virando água, pareciam estar sumindo, me sentia limpa e leve. Tolice. Pequenos fragmentos me mataram afogada.
Dor, medos, angústias e incertezas...pequenos fragmentos homicidas,
Pequenos...


2 comentários:

  1. Sim, estes fragmentos nos deixam por um fio... mas em algum momento, nos livramos desta morte interna.

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